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Artigos Cecília

Merecer o Prêmio

MERECER O PRÊMIO
*artigo escrito a alguns anos por mim*

Existem pessoas bem adaptadas, trabalhadoras, empreendedoras, responsáveis pais de família, que estão bem socialmente e economicamente, mas não estão bem com eles mesmos. É comum escutar dessas pessoas seus planos do futuro, ou, se já tem alcançado quase tudo, é normal ouvi-los falar mal da política ou do país, mas o que realmente está mal? O que nos faz não estar bem? Que será que esta acontecendo?

Em nosso jargão psicológico, falamos que têm problemas de saúde mental, mas o que é realmente isso? Essas pessoas estão às vezes tristes, em outras melancólicas, ou ainda com raiva.

A primeira resposta é que ter momentos na nossa vida de emoções “negativas” (esse nome negativo já é pejorativo) é normal e desejável. 

Devemos lembrar que as emoções têm natureza dual, ou seja, estão sujeitas a lei dos opostos. Isso quer dizer que para existir alegria deve existir tristeza; para existir paz deve existir raiva e assim por diante. Como afirma Tolle: “algumas vezes é erroneamente chamado de alegria é o lado geralmente breve do prazer, dentro da alternância contínua do ciclo sofrimento/prazer. O prazer sempre se origina de uma coisa externa a nós, ao passo que a alegria nasce do nosso interior. A mesma coisa que proporciona o prazer hoje, provocará sofrimento amanhã, ou nos abandonará, e essa ausência causará sofrimento.”.

Assim surge o segundo argumento. 

As pessoas em nossa sociedade são cobradas a sentir sempre grandes emoções.

Segundo Lacroix, em “O oculto da emoção”, o homem de hoje se interessa mais pela emoção que é explosiva, do que pelo sentimento, que é duradouro.

Tem-se em artigo no jornal “Valor Econômico”, a sua afirmação:

Até a política, hoje, é gerida, acima de tudo, pelo apelo emocional. Basta ver o lugar de destaque ocupados, nas manchetes, pelos escândalos, pelas grandes denúncias, pelas revelações secretas, pelas polêmicas.

Quando se sintoniza a CNN, ou qualquer outra grande rede de TV internacional, em algum lugar do mundo, em alguma parte, está em curso, sempre, uma tragédia. E é isso que mobiliza e atrai. É o que vicia: o transe.

Tudo o que se busca são “heróis de vida intensa”. Não é casual Indiana Jones, que nas telas de cinema mal deixa o espectador respirar e tornou-se símbolo do heroísmo contemporâneo.”

Essa situação de busca de sensações “positivas” e fortes gera uma vontade nunca satisfeita, criando um mundo que nessa busca cria um grande número de homens estressados, tensos e com o coração na mão.

Temos o desafio de nos rebelar contra isso e olharmos mais para nosso interior e ver realmente o que sentimos.

Olhando hoje início de maio de 2020, ainda na situação da crise do coronavirus, vejo que o desafio de olhar para nosso interior não foi feito espontaneamente por muitas pessoas e a situação que o mundo esta vivendo tem sido um convite diário para fazer esse exercício.

Cecília Urbina – psicóloga  CRP- 12/00957