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A dificuldade de agradar a todos

Em pleno calor do dia, um pai andava pelas poeirentas ruas de Keshan junto com seu filho e um jumento. O pai estava sentado no animal, enquanto o filho o conduzia, puxando a montaria com uma corda. “Pobre criança!”, exclamou um passante, “suas perninhas curtas precisavam esforçar-se para não ficar para traz do jumento. Como pode aquele homem ficar ali sentado tão calmamente sobre a montaria, ao ver que o menino está virando um farrapo de tanto correr”.

O pai tomou a sério essa observação, desmontou do jumento na esquina seguinte e colocou o rapaz sobre a sela. Porém não passou muito tempo até que outro passante erguesse a voz para dizer: “Que desgraça! O pequeno fedelho lá vai sentado como um sultão, enquanto seu velho pai corre ao lado”.Esse comentário muito magoou o rapaz, e ele pediu ao pai que montasse também no burro, às suas costas. “Já se viu coisa como essa?”, resmungou uma mulher usando véu. “Tamanha crueldade para com os animais! O lombo do pobre jumento está vergado, e aquele velho que para nada serve e seu filho abancaram-se como se o animal fosse um divã. Pobre criatura!” 

Os dois alvos dessa amarga crítica entreolharam-se e, sem dizer palavras, desmontaram. Entretanto mal tinha andado alguns metros quando outro estranho fez troça deles ao dizer: “Graças a Deus que não sou tão bobo assim! Por que vocês dois conduzem esse jumento se ele não lhes presta nenhum serviço, se ele nem mesmo serve de montaria para um de vocês?” O pai colocou um punhado de palha na boca do jumento e pôs a mão sobre o ombro do filho. “Independentemente do que fazemos”, disse, “sempre há alguém que discorda de nossa ação. Acho que nós mesmos precisamos determinar o que é correto”.

O Mercador e o Papagaio
(Nossrat Peseschkian)