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A vida e a morte

A vida e a morte

Quando no quarto branco do hospital
acordei certa manhã e ouvi um melro,
compreendi bem.
Há algum tempo já não tinha medo da morte.
Pois nada me poderá faltar se eu mesmo faltar.
Então consegui me alegrar com todos os cantos dos
melros depois de mim...
  Brecht

"Não se pode aprender a amar, tal como não se pode aprender a morrer. Chegado o momento, o amor e a morte atacarão – mas não se tem a mínima idéia de quando isso acontecerá. Quando acontecer, vai pegar você desprevenido”. Fala o autor Bauman

De fato, cada vez que respiramos, afastamos a morte que nos ameaça, mas, no final, ela vence, pois desde o nascimento esse é o nosso destino. Continuamos vivendo com grande interesse e inquietação da mesma forma que sopramos uma bolha de sabão até ficar bem grande, embora tenhamos absoluta certeza de que a mesma vai estourar. Já os estóicos, diziam: “Começamos a morrer quando nascemos”.

A principal ou primeira motivação é a própria vida, ou seja, manter-se vivo e apreciar a vida; esse é um leitmoyiv que se encontra em todos os povos, em todas as classes sociais, em todos os níveis de existência. 

A sensação de completude, de ter “consumado a vida”, reduz a angústia da morte. O viver ou morrer nada mais é que conseqüência do construído. O importante é construir bem.

Esse é um assunto que com freqüência nos perguntamos, Como viver bem? Como encarar o fato de sermos mortais? Para Schopenhauer o método para afastar a angústia da morte é quanto mais realização pessoal houver, menor será a angústia da morte. Este argumento é, sem dúvida, forte. Médicos que tratam de pacientes terminais já notaram que a angústia é maior nos que acham que tiveram uma vida mal realizada.

A angústia da morte outro assunto interessante. Tememos a morte porque ela é estranha e desconhecida? Estamos enganados, pois a morte é muito mais conhecida do que pensamos. Não só sentimos o que ela é todos os dias, no sono ou em estados de inconsciência, mas todos nós passamos por um estado não-ser antes de sermos concebidos.

Tememos a morte porque ela é má? (Pense nos horríveis desenhos e ilustrações que costumam representar a morte.) Yalom fala: “É absurdo considerar a não-existência como ruim: cada mal, como cada bem, pressupõe existência e consciência. (...) e claro que não é ruim perder o que não se pode ter.” A vida é sofrimento, um mal em si. Então, será ruim perder uma coisa ruim? A morte, deveria ser considerada uma benção, um alívio da inexorável angústia da existência bípede. “Deveríamos saudar a morte como um fato feliz e desejado, em vez de, como costuma ser, com medo e tremor. Deveríamos insultar a vida por interromper nossa agradável não-existência”. 

Mas melhor pensemos na vida, como viver bem? Leonardo Boff lembra uma frase bíblica: “escolha a vida e viverá”.  Mas como? Gostaria de sugerir um pensamento de Rubens Alves: “Os filósofos antigos reduziam o essencial a quatro elementos fundamentais: a água, a terra, o ar, o fogo. Concordo com eles. Sabiam dos segredos da alma. Pois é disto que somos feitos. Posso imaginar um mundo sem as maravilhas da técnica, sem que eu sinta, por isto, nenhuma tristeza especial. Mas não posso pensar em um mundo sem a chuva que cai, sem regatos cristalinos, sem o mar misterioso... Não posso imaginar um mundo sem o calor do sol que agrada a pele e colore o poente, sem o fogo que ilumina e aquece... Não posso imaginar um mundo sem o vento onde navegam as nuvens, os pássaros e os cheiros das magnólias”.

Cecília Urbina, psicóloga, CRP/12-0957.