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Crise

Crise

Este artigo o escrevi anos atras. Nem imaginava que vamos estar passado pela situação atual de epidemia de Coronavirus. Mas ele é pertinente e pode ajudar neste momento atual.

A expressão crise tornou-se comum em nossos dias. Fala-se em crise econômica, crise moral, crise religiosa, crise política, crise do casamento, crise da família, crise pessoal, entre outras. Desta forma, com tamanha insistência e reiteração, o termo já não é mais reservado para assinalar algum momento ou circunstância de exceção.  É utilizado para sinalizar uma condição permanente ou um estado de crônica insatisfação à espera de certa providência que, ao chegar, restabelecerá a situação anterior de suposto equilíbrio e bem-estar pessoal ou poderá ainda nos remeter à possibilidade futura de solução definitiva de um mal-estar pessoal ou social que nos aflige.

Na verdade, crise, por suas origens etimológicas, apenas significa "decisão", "discriminação", "juízo"(do grego Krisis derivado de Krino: eu decido, separo, distingo, julgo), longe do sentido apocalíptico ou de ruptura com que o termo foi impregnando-se através dos tempos. As crises são um ponto conjuntural, de mutação necessária ou até indispensável de desenvolvimento. As crises ensejam o acúmulo de experiências e uma melhor definição de objetivos.

A capacidade de uma pessoa em lidar com as crises é influenciada pelos vários recursos pessoais, recursos do sistema familiar e apoio social que pode obter de seus relacionamentos com os demais. Porem, as pessoas atualmente não dão importância à sua vida passada, a seu casamento, aos seus relacionamentos com os outros e tendem a deixar de lado ou até a rejeitar a idéia de que a vida familiar requer de energia, tempo e competências - naturalmente de tipo diferente daquelas exigidas na vida do trabalho, mas, ainda assim, competências. 

Atualmente as pessoas fazem o movimento contrario e ate se criam teorias para fugir do livre-arbítrio. Cito as palavras de James C. Hunter, do livro “Monge e o executivo”: “...o determinismo psíquico permite-me culpar meus pais por minha infância infeliz que me levou a fazer mas escolha; o determinismo ambiental me permite culpar meu chefe pela desgraçada qualidade de minha vida profissional! Tenho toneladas de novas desculpas para meu mau comportamento e minhas desgraças. Isso não é ótimo?...”

Devemos parar de acusar os outros pelas infelicidades da vida, e passar a reconhecer as dificuldades como coisas que acontecem na vida. Cada vez mais precisamos encontrar, descobrir e criar os valores e as condições de nossas próprias vidas assumindo um papel ativo e responsável abandonando a espera utópica e paralisante de providencias externas salvadoras.

Cecília Urbina, psicóloga, CRP- 12/00957