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Mentira e loucura

Mentira e loucura

Definição de mentir é; "afirmar coisa que sabe ser contrária à verdade, dizer mentira". Ao procurar o que significa mentira, encontra-se: engano, impostura, fraude, falsidade.

Neste artigo vamos tentar responder a seguinte pergunta:

- Se a mentira precisa de consciência por parte do mentiroso, ela existe nos distúrbios mentais?

Com freqüência se escuta ou lê pessoas que falam coisas como: 

“Ah, esse mente sempre, é mais forte que ele”, ou “O que fulano está falando é uma mentira, mas não da bola que é um louco”. “Coitada, a moça perdeu o marido e ela acredita que vai voltar”.

O interessante é que todas as frases acima não correspondem a mentira e sim a diversos processos mentais normais ou não. A mentira não existe em quadros psicopatológicos. 

Estou consciente que esta minha afirmação vai causar algumas controvérsias, quando existe a tendência em associar mentira com ausência de saúde mental. Até existe um tipo de paciente psiquiátrico que tradicionalmente se chama de mitômano.

Considero que se tem dado uma má interpretação do termo mentira ou das pessoas mentirosas, se entendendo que para mentir se deve unicamente falar algo que é falso. Convido-os a voltar a refletir na definição de mentira, para uma pessoa estar mentindo não é suficiente estar falando mentiras e sim que a pessoa tem que ter um comportamento consciente, no qual ela sabe que está fazendo uma conduta de transgressão moral. Ou seja, para se mentir, é indispensável a intenção de engano. Importante sublinhar que esse engano não necessariamente pode ser direcionado a outros e, sim, também, pode ser um auto-engano.

Assim, clareando a natureza de mentir, se exclui a possível acusação de mentiroso a pessoas com quadros psicopatológicos, como os de perda de consciência, psicóticos, ou quadros delirantes. É interessante esta afirmação porque é comum que as pessoas julgam as pessoas delirantes, os compulsivos, ou as em luto psicótico (acreditam que o familiar não faleceu) igual como julgam as pessoas mentirosas conscientes de suas mentiras, em pleno gozo de sua responsabilidade moral, e como temos explicado com as pessoas em quadro psiquiátrico não é possível fazer isso.

É meu dever finalizar lembrando-os que, sim, tem “pessoas normais” as quais vivem na falsidade e estas sim podem e devem ser julgadas. Em concreto, pessoas chamadas tradicionalmente de neuróticas, os que fazem simulação, ou fingimento, ou  com transtornos de personalidade, psicopatia ou sociopatia tem o mesmo compromisso e todos nós: de ser éticos e viver a vida na verdade. 

Nosso papel é poder mostrar a elas que existe um problema, que podem procurar ajuda para ele, e que a abordagem terapêutica mais adequada geralmente é a realização de uma terapia psicológica.

Cecília Urbina
Psicóloga CRP 12/00957