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Artigos Cecília

Exposição virtual
No mundo moderno, especialmente entre os jovens, se vive uma situação de exposição permanente pelos meios de comunicação e pela informática. As pessoas estão sempre vigiadas e monitoradas, sendo que alguns chegam a fazer questão de expor sua vida pessoal nos meios sociais.
 
Surgem duas perguntas: O que pode estar levando a isto? Que conseqüências pode trazer esta sobreexposição?
 
A causa de que as pessoas gostem de exposição pode estar na base do ser humano. Leonardo Boff explica que para nós sermos completos precisamos ter a interioridade e a exterioridade. Isto significa que para ser totalmente humano temos que satisfazer nossas necessidades no meio externo, como comer, beber, vestir, morar, fazer amor.  Mas ao mesmo tempo, cada um é totalmente homem só na medida em que possui interioridade. O que vemos atualmente é que a nossa exterioridade está exagerada e que muitas pessoas esquecem a ressonância das coisas dentro de si.  Experimenta-se o que vem de fora, sem estar conectado e, muitas vezes, sem sequer saber o que realmente se sente.
 
Algumas pessoas extrapolam e na procura do amor e de um sentido de vida, chegam a ficar dependentes dos meios da comunicação informatizada e das redes sociais. Esta paixão pelo efêmero seria explicado pelo espírito da época, narcisista e histriônico que é chamada pelo filósofo francês  Lipovetsky como  “Era do Vazio”.
 
Ele lembra que a busca dos valores individuais e do prazer gera um fenômeno estranho a “solidão em massa”: as pessoas se queixam de não serem compreendidas ou ouvidas, de não saberem se expressar”  
Fala: “A busca da riqueza não tem nenhum objetivo senão excitar admiração ou inveja”. Nesse mundo ultra competitivo, o Outro só faz sentido se viabilizar o sucesso do Eu. 
 
Outra explicação para este exagero de exposição e da explosão das relações virtuais que estamos vivendo poderia estar no amor.
 
O amor sempre foi o motor de nossas existências, mas atualmente existe uma busca de atenção e aprovação por parte dos outros sobre dimensionada. Não se tem a contrapartida interior. Como se dá um valor exagerado aos contatos virtuais, a aprovação, e o aparecer no mundo virtual acaba ficando mais importante que as experiências internas e os contatos sociais e emocionais reais.
 
Zygmunt Bauman fala que nossos contemporâneos, no desespero por relacionar-se, procuram as “relações virtuais”, como “relacionamentos de bolso” opostos as relações tradicionais, essas relações são leves e frouxas. Assim os cybernautas ficam com seus sentimentos descartáveis, feitos sob medida para o líquido cenário da vida moderna. Eles parecem inteligentes e limpos, fáceis de usar, compreender e manusear.
 
Estas relações servem no anseio por estimulação e para satisfazer a gratificação imediata. Mas assim as relações são superficiais e não conseguem ser realmente gratificantes.
 
O problema é que a solução da solidão usando as relações virtuais gera um circulo vicioso, na medida em que os relacionamentos são vistos como investimentos, como garantias de segurança e solução de seus problemas. As relações virtuais não satisfazem nem geram o esperado. A pessoa continua na solidão, inseguro e ainda pode se sentir mais inseguro que antes.
 
Estar sempre conectado pode levar a sentir a própria experiência interna como estranha e desagradável sendo que, com isso, se perpetua evitar a autoconhecimento e se elimina a possibilidade de se estabelecer uma relação madura com um outro. Quando se ouve um comentário como: “as pessoas estão emburrecendo”. Tem haver com isso. As pessoas terminam evitando pensar; se privilegia as imagens, as sensações,  e se fica no vazio.
 
Como solução desta situação devemos ensinar as pessoas  a pensar, a analisar e expor os seus proprios sentimentos. Ensinar aos “dependentes da exposição” a assumir um papel ativo nas suas vidas e assim tomar suas próprias decisões desenvolvendo uma identidade própria sem basear-se nos outros idealizados.