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Ouvi num congresso de psicologia um palestrante falar a respeito da dificuldade de colocar em prática uma técnica australiana na nossa realidade devido característica dos brasileiros. Segundo ele os brasileiros têm muitos desejos e poucas metas e objetivos.

Sobre o desejo, já foi falado que devemos ter um cuidado especial por ser uma energia vulcânica que atormenta a mente. Somos seres-de-desejo. Realmente não desejamos apenas isso e aquilo. Desejamos tudo e o todo.

Podemos falar na necessidade de domesticar nossos desejos, organizando eles em objetivos e metas maiores. A vontade tem de estar associada à disciplina, para que se mantenha o foco no objetivo desejado.

Para escolher devemos pensar, já que no desejo, por ser algo original, não é necessário pensar, segundo Leonardo Boff. Somos inteligentes e livres pela vontade, mas de nada serve uma pessoa ser cognitivamente erudita e perfeita, se ela não for emocionalmente equilibrada. O que devo fazer? Viver o momento presente, satisfazer meus desejos? Mas minha inteligência me diz que não posso deixar de planejar, senão corremos o risco de nos tornarmos hedonistas, inconseqüentes. Tenho de planejar porque eu não sei como será o dia de amanhã, temos várias dificuldades a resolver com nossos desejos sem-fim.

1 - Devemos abrir mão de desejos que não são permitidas pela convivência social.
Todos vivemos, de uma maneira ou de outra, um conflito entre o que desejamos e o que nos permitimos desejar. E é bom que seja assim. Se nos autorizássemos tudo o que queremos, a vida e a convivência social seriam complicadas.  

2 - Devemos aprender a postergar e esperar pela satisfação do desejo. 
O pesquisador Daniel Goleman descobriu que a pessoa com maior maturidade tem maior capacidade de postergar o prazer. A sua “vontade” pode criar um projeto que traz vantagem frente a concretizacao imediata do desejo. Posteriormente, ele complementou que ser capaz de postergar o prazer é um indicativo de maior equilíbrio emocional. 

3 - Devemos escolher entre várias coisas que desejamos porque não podemos conseguir tudo.
Quando se tem de escolher entre duas possibilidades, uma boa e outra ruim, é fácil, opta-se pela boa. Mas quando temos de decidir entre duas alternativas e não é possível, naquele momento, saber qual será a melhor. Ou quando a escolha recai entre duas coisas que se deseja? A vida está repleta de momentos em que temos de abrir mão de coisas que desejamos. É indispensável ter motivos bem definidos e realmente fortes para que o individuo consiga manter o foco, abandonando as outras possibilidades. 

O fato de ter que escolher entre desejos alimenta várias formas de insatisfação: Uma delas é uma espécie de nostalgia do que não foi.   A escolha entre desejos diferentes não é a desistência mais custosa: para alguns, frente a essa dificuldade desistem de desejar. Neles o afeto não é mais a nostalgia, mas uma culpa da qual a gente parece nunca se curar: a culpa de ter traído a si mesmo, de ter desprezado nosso sonho mais querido. 

O homem tem infinitos desejos e grande parte do sofrimento de uma pessoa vem por sentir desejo a melhor maneira de amenizar a dor e conhecendo-se a si mesmo. Ou seja, conheça seus valores, seus sonhos, suas potencialidades, seus medos e limites, para então conhecer o próprio destino. Encontre dentro de si os motivos para continuar vivendo e construir seu futuro.  

Cecília Urbina, psicóloga.
CRP/12-0957 Membro fundadora da CERES (Associação Criciumense de apoio a saúde mental)

- Contardo Calligaris Jornal Folha de São Paulo, quinta-feira 8 de dezembro de 2011.
- Boff, Leonardo A Águia e a galinha. Petrópolis, Rj: Vozes, 2009.
- Calligaris, Contardo. Volta da Flip, 14/07/2011, Ilustrada E11. Folha de São Paulo.
- Botelho, Razão e instinto. Em Vida Simples. Edição 93, 2010.
- Yalom. Irvin D. A cura de Schopenauer.
- Marins, Eugenio e Mussak, Luiz. Motivação. Papirus 7 mares